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Carnes e vísceras cruas, pode?

Carnes e vísceras cruas, pode?

 ** Tenho receio de oferecer carnes cruas aos meus pets. Não existe risco de contraírem doenças e vermes? Será que podemos confiar no controle de qualidade de nossas criações, abatedouros e frigoríficos?

 

               O Brasil é um dos maiores exportadores de carne do mundo e abastece países extremamente exigentes, como os europeus. Boa parte de nossa criação de gado ainda é alimentada com pasto de boa qualidade - diferentemente do cenário norte-americano, onde a maioria é criada em regime de confinamento e à base de derivados de grãos de qualidade questionável.

                Não existe só o lado do alimento provocar doenças, riscos. Existe, sobretudo, a imunidade do animal que recebe esses alimentos. Conforme citamos nesse artigo, qualquer pessoa que acione a descarga de seu vaso sanitário sem a tampa do mesmo estar fechada aspira uma nuvem de microorganismos potencialmente patogênicos que sobe dois metros de altura. Mas só ficam doentes com isso os imunossuprimidos.

                Na verdade, os autores das dietas naturais consideram até positiva a exposição diária do pet a microorganismos como Salmonella ssp. Referem que isso funciona como uma vacina, fortalecendo o organismo do animal para que ele próprio debele essas infecções. Aliás, com ou sem AN isso já acontece. É por isso que os cães lambem a região anal e genital deles próprios e de outros, cheiram e lambem o chão, etc, e não adoecem. Mais sobre as bactérias nesse nosso artigo.

 

     De todo modo, é claro que é importante tomar cuidados. Aí vão os mais importantes:

 

- Somente compre carnes e meaty bones próprios para consumo humano e em locais idôneos, onde a boa higiene na manipulação das peças é aparente;

- De preferência, compre essas peças em local próximo à sua casa, para que os alimentos não se deteriorem em trajetos longos - se for o caso leve uma caixa de isopor ou solicite entrega em domicílio (os itens virão refrigerados);
- Todas as carnes comercializadas para consumo humano sofreram congelamento profilático em freezers industriais para eliminação de cistos parasitários e protozoários. De qualquer maneira, há pessoas que preferem solicitar ao açougueiro que congele essas carnes por um mínimo de 3 dias no freezer do açougue, antes decomprá-las e levá-las para casa.


- Congele as peças no freezer de sua casa por 3 a 5 dias antes de oferecê-las aos pets.
- Ao preparar e separar as porções, use um pouco de vinagre de maçã sobre as carnes para matar parte das bactérias de superfície;

- Não permita que o alimento fique ao ar livre por mais de 30 minutos sem ser consumido. Guarde o que sobrar na geladeira e ofereça novamente em até 24 horas;

- Caso tenha receio de que o animal possa receber parasitos intestinais por meio do consumo de carne cruas, solicite ao veterinário exames coproparasitológicos (de fezes) periódicos e vermifugue conforme o parasito detectado no exame.

 

As preocupações em relação à ingestão de carnes cruas são:

 

Bactérias
- Salmonella ssp

- Eschericchia coli

- Listeria ssp

- Campylobacter ssp

 

Protozoários:
- Toxoplasma

- Sarcocystis

- Neospora

 

Helmintos:
- Echinococcus

 

                As bactérias podem resistir ao congelamento. Mas como eu disse, não creio que representem perigo desde que as peças estejam frescas e sejam de boa procedência, e que o pet esteja imunocompetente. Para ajudar a minimizá-las entra na história o vinagre de maçã. Já os protozoários e helminto podem ser eliminados pelo congelamento.

 

E As Bactérias??

 

- Carne crua? Mas e as bactérias? Não vai dar uma salmonelose (infecção com Salmonella spp, um gênero de bactéria)?

                Falemos sobre as famigeradas bactérias. Elas, que deram origem à vida na Terra, que convivem aos milhões (senão aos trilhões) dentro do nosso corpo e que estão, invariavelmente, por toda parte.

                Entretanto, apenas nos lembramos delas como vilãs. Não paramos para pensar em quantos favores elas nos prestam. Há bactérias defendendo o organismo de agentes nocivos, há bactérias auxiliando na digestão de alimentos (lembra dos lactobacilos?) e até existem bactérias favorecendo o mecanismo de ação de alguns medicamentos.

                As Salmonella ssp, a Campylobacter jejuni e outras bactérias comumente responsáveis por toxinfecções alimentares – entre outras infecções – habitam os intestinos de diversos animais, e por vezes, causam doenças nos próprios hospedeiros ou em animais que têm contato com elas.

                Em geral isso ocorre por queda na imunidade. Por algum motivo o organismo baixa a guarda e um microorganismo, seja ele de origem externa ou interna, faz a festa. Isso pode acontecer de mil maneiras. Contato com microorganismos – vírus, bactérias, protozoários – todos temos aos montes, diariamente, não importa o quão higiênicos sejamos.

                Aliás, quanto mais neurótica for a pessoa com relação a bactérias, pior. Diversos estudos comprovam que o uso indiscriminado de antibióticos, desinfetantes e sabonetes bactericidas conduz à queda de imunidade, aumento no número de infecções, aumento da resistência bacteriana aos medicamentos e até mesmo aumento da gravidade dos sinais clínicos.

O mesmo vale para os nossos animais de estimação.

                Não estamos aqui fazendo apologia da imundície, não é nada disso. Mas pare para pensar em quantas vezes os cães e gatos se infectam com microorganismos no dia-a-dia sem que isso resulte em doença ou sintomas, e você entenderá onde queremos chegar. Vamos citar algumas situações.

                Você sabia que toda vez que a descarga do vaso sanitário é acionada, uma nuvem de coliformes fecais (bactérias intestinais de todos os usuários daquele banheiro) fica dispersa no ar? Contamina, entre outras coisas, a sua escova de dentes? Você, seu cão, gato, podem estar no banheiro quando isso ocorre. E não ficam, necessariamente, doentes. Ficam?

                Seu cão pisa no chão do quintal ou da rua, parque, etc, por onde incontáveis fezes passaram.  Depois seu cachorro se deita e lambe as patas. Depois ele também lambe o seu rosto. E nem por isso vocês dois adoecem. Você já deve ter reparado no cumprimento típico entre cães. Sem cerimônias, eles cheiram o traseiro e região genital uns dos outros, não é? Imagine quantos microorganismos eles não adquirem fazendo isso.

                E ao comerem frutas meio podres que caem no quintal? E ao rolarem sobre passarinhos mortos? Pior: lamberem cocô de passarinhos? Comerem terra? Fazerem a “toilete” íntima? Alguns chegam a comer…cocô (deles próprios e de outros animais)! Isso sem falar no cálculo dentário (“tártaro”), que a maioria dos pets têm. O que é o cálculo senão um multi-agregado de bactérias?

                Cães descendem de canídeos, que são carnívoros e necrófagos. Ou seja, comedores até de carcaças em estado de decomposição. Eles têm uma alta resistência natural a infecções corriqueiras, muito subestimada por todos nós – incluindo os veterinários. Na maioria dos casos, basta cuidarmos bem da imunidade que ela cuida bem de todos nós.

                Por esse motivo, é de certa forma uma besteira atribuir tanto risco às dietas cruas. Diversas comunidades e populações no mundo – a exemplo dos longevos e geralmente sadios japoneses – têm por hábito a ingestão de alimentos crus. Curiosamente, das várias intoxicações alimentares que já sofri, todas foram por consumo de produtos processados, cozidos.

                É evidente que o vilão da história não é somente o microorganismo. Antes da semente germinar, é preciso que o terreno esteja fértil, preparado. O mesmo acontece com o organismo. Infecções que resultam em diarréia aguda, ocorrem, por exemplo, quando uma colônia “x” de bactérias é afetada (por diferenças de pH, alimentos diferentes, ou qualquer imunosupressão, etc), gerando espaço e alimentos para que outra colônia concorrente se prolifere de modo anormal, desordenado. E cause problemas.

                Professores de Imunologia e Microbiologia sempre dizem “imunidade é tudo”. Anticorpos são feitos do que? Proteína. E proteína de verdade, inalterada, só em alimento in natura.

 

 

** Concluindo...

                Aqui NINGUÉM está afirmando que alimentos crus não possam desencadear doenças. Há sempre um risco. Mas esse risco existe também, embora em inegável menor grau, nos alimentos processados ou submetidos à cocção em casa. Pouca gente sabe disso, mas embora seja possível matar bactérias com calor, as toxinas que elas produzem – e que comprovadamente ocasionam doenças crônicas – permanecem.

                Além disso, cozinhando o alimento para seu pet, você acaba por degradar as enzimas e parte dos nutrientes, principalmente micronutrientes delicados – muitos dos quais nós nem conhecemos e identificamos ainda. O que fazer, então, para debelar ao máximo os riscos?

 

- Compre apenas alimentos frescos e de boa aparência, em lugares limpos, idôneos e próximos de sua casa – de modo que os itens, em especial as carnes, não fiquem expostos à temperatura ambiente por muito tempo.

- Sempre que for possível compre alimentos orgânicos. Eles são mais caros e, em geral, mais feinhos, mas muito mais saudáveis. Criações orgânicas de frango, por exemplo, não permitem o uso de antibióticos na ração diária das aves. O uso prolongado de antibióticos aumenta resíduos indesejáveis na carne e origina cepas (linhagens) de microorganismos cada vez mais resistentes. E o fato de os animais serem criados soltos, além de mais humanitário e menos estressante, diminui o que chamamos de “pressão de infeccção”. Isso porque na criação orgânica não acontece aquela intensa aglomeração das criações tradicionais que favorece a disseminação de microorganismos entre as aves. Alguns estudiosos reforçam ainda que, caso os frangos caipiras estejam infectados com bactérias, são bactérias mais fáceis de combater, uma vez que os frangos caipiras são criados sem antibióticos (que acabam fortalecendo as bactérias).

- Antes de cortar e separar as carnes para o congelamento, lave e desinfete a pia e todos os utensílios com álcool (de preferência com álcool 70% - esse estoura e mata as bactérias, enquanto que o álcool 100% apenas as deixa estáticas).

- Enquanto prepara um pacote de carne, deixe os demais na geladeira.

- No intervalo entre preparo de carnes (e vegetais) diferentes, desinfete a pia e utensílios.

- Desinfete as carnes com vinagre de maçã e retire o excesso do vinagre em seguida, com água, de preferência, filtrada.

- Tão logo separe as porções, congele-as no freezer. Acondicione os tupperwares ou saquinhos sem amontoá-los, permitindo um espaço entre eles para que o ar gelado os envolva e promova o rápido congelamento.

- De preferência, só ofereça carnes que estiveram congeladas no seu freezer por um mínimo de cinco dias. Esse procedimento mata boa parte dos helmintos (vermes) e outros parasitos que por ventura estejam na carne.

- Evite oferecer carne moída crua. A própria máquina de moagem já pode contaminar as carnes, e além disso, o processo espalha microorganismos superficiais da peça por toda a carne.

- Na hora de descongelar, não o faça sobre a pia. Retire do freezer a porção a ser oferecida com 24 horas de antecedência e deixe descongelar na parte inferior da geladeira, sobre um recipiente (para não sujar a prateleira com aquele caldinho e contaminar outros alimentos). Isso minimiza a proliferação bacteriana.

- Não deixe o alimento exposto ao ar livre por mais de 30 minutos. Se o pet não comeu, retire e guarde na geladeira para oferecer mais tarde. E não ofereça alimentos que estejam há muito tempo na geladeira. Carnes geralmente permanecem boas para consumo por até 48 horas na geladeira. Nesse momento o bom senso é crucial.

- Se seu animal está imunossuprimido – sendo submetido, por exemplo, a quimioterapia, ou tratamentos prolongados com corticóides e antibióticos – talvez seja melhor trocar a alimentação crua por uma dieta cozida. Casos assim podem ser discutidos com o médico-veterinário.

- Lave muito bem as mãos antes e depois de preparar as refeições.

 

Informações retiradas do site: www.cachorroverde.com.br

Vale muito a pena ler, informações completas e de estrema importância!!